Quando é que o PT vai aprender a falar a verdade?
Veja abaixo uma análise dos principais trechos do pronunciamento da presidente.
Inflação
Discurso – "Em alguns períodos do ano, sei que têm ocorrido aumentos localizados de preço, em especial dos alimentos. E esses aumentos causam incômodo às famílias, mas são temporários e, na maioria das vezes, motivados por fatores climáticos. Posso garantir a vocês que a inflação continuará rigorosamente sob controle, mas não podemos aceitar o uso político da inflação por aqueles que defendem 'o quanto pior, melhor'. Temos credibilidade política para dizer isso. Nos últimos 11 anos, tivemos o mais longo período de inflação baixa da história brasileira."
Não é bem assim – De fato, entre 2003 e 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está, em média, abaixo do que foi apurado nos onze anos imediatamente anteriores — afinal, o Plano Real e seus pilares foram implementados a partir de 1994, período em que a inflação ultrapassava 1.000% ao ano. Eliminar uma doença econômica que afligiu o país durante décadas consumiu anos da administração de Fernando Henrique Cardoso. Com a chegada do governo Lula e a manutenção da política fiscal desenhada pelo time de FHC, o IPCA conseguiu ficar, durante três anos, abaixo do centro da meta de 4,5% ao ano. Contudo, desde a chegada de Dilma ao Planalto, o índice se manteve mais próximo do teto da meta, de 6,5%, passando a mensagem ao mercado de que os 4,5% deixaram de ser o porcentual perseguido pela equipe econômica. Em 2014, economistas consultados pelo Banco Central já preveem que o IPCA terminará acima da meta. Para tentar frear a disparada dos preços, o governo Dilma lançou mão de expedientes nada ortodoxos, proibindo o aumento do preço da gasolina e forçando a redução do preço da energia. O preço pago pelo país é caro e a Petrobras é o maior exemplo disso: a estatal passa por situação financeira delicada, com endividamento acima de 200 milhões de reais.
Contas públicas
Discurso – "Meu governo também será sempre o governo do crescimento com estabilidade, do controle rigoroso da inflação e da administração correta das contas públicas."
Não é bem assim – A presidente não só fez uma afirmação incorreta, como também ignorou todas as consequências decorrentes justamente do aumento da gastança pública. Exemplo disso é o rebaixamento da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. A agência relatou a deterioração fiscal como fator preponderante para o rebaixamento. O resultado primário divulgado pelo Tesouro Nacional nesta quarta-feira resume bem a situação: a economia do governo para pagar os juros da dívida em março deste ano é a mais baixa desde junho de 2009 — período em que o mundo assimilava o impacto de uma crise financeira sem precedentes. Hoje, não há a desculpa da crise. Mas os indicadores estão convergindo cada vez mais para os parâmetros daquele ano, quando a economia brasileira teve contração de 0,6%. No acumulado de 2013, o Brasil teve o pior superávit primário dos últimos 12 anos.
Conta de luz
Discurso — A tarifa de luz, por exemplo, teve a maior redução da história. A seca baixou o nível dos reservatórios e tivemos de acionar as termoelétricas, o que aumentou muito as despesas. Imaginem se nós não tivéssemos baixado as tarifas de energia em 2013. Os investimentos que fizemos em geração e transmissão de energia permitem hoje ao Brasil superar as dificuldades momentâneas, mantendo a política de tarifas baixas.
Não é bem assim — A redução de cerca de 20% na conta de luz anunciada no final de 2012 já começa a ser revertida por meio dos reajustes tarifários autorizados pelo governo às distribuidoras. Desde o início de abril, reajustes de mais de 15% foram anunciados para os consumidores das elétricas Celpe, Cemig, Coelce, AES Sul, Coelba, Cemat e CPFL Paulista. A presidente reclamou dos gastos com as termelétricas e disse que o custo seria maior para a população se ela não interferisse no setor para reduzir as tarifas. Neste caso, os fatos foram ligeiramente distorcidos. Afinal, parte da necessidade de uso das térmicas se deve ao fato de o governo ter antecipado o fim dos contratos com as empresas do setor como forma de permitir o corte na conta de luz. A antecipação forçada não contou com a adesão de todas as empresas. As que não ‘fecharam’ com o governo, deixaram de fornecer ao sistema — o que aumentou a necessidade de uso das térmicas. E quem paga essa conta é o consumidor, por meio de reajustes anuais, e o contribuinte — afinal, parte da conta das termelétricas é bancada pelo Tesouro.
Mobilidade urbana
Discurso – “O pacto pela mobilidade urbana está investindo 143 bilhões de reais, o que permite a implantação de metrôs, veículos leves sobre trilhos, monotrilhos, BRTs, corredores de ônibus e trens urbanos. Com isso, estamos melhorando o sistema viário e o transporte coletivo público nas cidades brasileiras.”
Não é bem assim – A presidente exaltou o total de investimento do seu governo, porém, a rubrica específica de mobilidade urbana do PAC 2 aponta que somente 2% das 253 obras previstas saíram do papel.
Reforma política
Discurso – "Além de acelerar as ações desses pactos é preciso agora, sobretudo, tornar realidade o pacto da reforma política. Sem uma reforma política profunda, que modifique as práticas políticas no nosso país, não teremos condições de construir a sociedade do futuro que todos almejamos."
Não é bem assim – Dilma foi assertiva nesta quarta-feira: "Vocês lembram dos pactos que nós firmamos, após as manifestações de junho". Ela lembra? Fragilizada pelos protestos de 2013, o que Dilma primeiro prometeu foi um "grande pacto" pela "melhoria dos serviços públicos", que procuraria firmar, não com os "trabalhadores e trabalhadoras" a quem se dirigia, mas com quem de fato pode fazer alguma coisa pelos serviços públicos, em particular "governadores e prefeitos das grandes cidades". Quanto a "oxigenar o nosso velho sistema político", Dilma disse que iria "contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política". Dias depois, fez o contrário: em novo pronunciamento, anunciou seu "pacto da reforma política", defendendo uma Constituinte oportunista, e acabou jogando a crise no colo do Congresso, onde a proposta foi barrada. A verdade é que nunca existiu tal pacto. E por uma razão bastante simples: até partidos da base aliada resistem a um acordo que, a pretexto de "construir a sociedade do futuro", abre caminho para a aprovação de medidas que apenas reforçam o cacife eleitoral dos governantes de turno. "Pacto da reforma política" é a senha para as investidas do PT.
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