Acompanhei – e incentivei – o pedido de impeachment de Renan Calheiros feito por petição online na Internet. Como reconheceu o próprio autor da ideia, o ato é mais político que jurídico. As leis de iniciativa popular não abrangem esse tipo de solicitação.
O que me moveu foi a criação do fato político. Um senador eleito com 840.000 votos em Alagoas consegue mais de 1.500.000 assinaturas pedindo sua renúncia. Melhor, exigindo.
Resolvi telefonar aos gabinetes de senadores do PSDB para ao menos informa-los do que estava acontecendo na Internet.
Obviamente, não consegui falar com nenhum dos cinco que escolhi: Aécio Neves, Álvaro Dias, Lúcia Vânia, Aloísio Nunes Ferreira e Flexa Ribeiro (por fazer parte da mesa emporcalhada).
Tentei os assessores. Os de Aécio estavam almoçando (às 15 horas). Os de Flexa Ribeiro, ausentes. Fui muito bem atendido pelos assessores de Álvaro Dias, Aloísio Nunes Ferreira e Lúcia Vânia.
Todos solicitaram que enviasse por mail as observações que expus, longamente, nos telefonemas. O de Álvaro Dias até me enviou um mail solicitando o que prometi.
A todos apresentei algumas questões: será necessária uma petição online solicitando que HAJA oposição no Brasil? Questionei a tibieza e covardia dos que apoiaram o Cangaceiro das Alagoas. Expressei minha indignação com o PSDB , que não assume a OPOSIÇÃO REAL que 44% da população do Brasil imaginavam existir. Tratei com TODOS da petição online e da inusitada adesão.
E de todos os assessores ouvi palavras que variavam do desânimo à revolta. Um me informa que o senador pensa até mesmo em mudar de partido. A pergunta que ambos fizemos foi: para qual partido? Outro diz que o chefe foi voto vencido no encontro entre os senadores do PSDB. Todos admitiram que a situação decorrente deste apoio era insustentável. Só um sabia da petição da WEB.
Por que resolvi agir assim? Não creio que argumentos éticos, morais e de decência política façam alguma diferença quando exigidos dos petistas e da base alugada. Eles se sabem podres. E estão confortáveis na pocilga moral em que se escondem, com os focinhos de fora, entre montes de fezes e lama. Seria pregar no deserto. Eu não sou personagem bíblico…
O que nos resta é tentar fazer com que a oposição (mesmo que adormecida e anestesiada) entenda que existe uma parcela cada vez maior dos eleitores que não se sentem infimamente representada pelas oposições consentidas.
Grande parte da responsabilidade pelo estado de decomposição moral, ética e política que vivemos está com a oposição.
O estado de direito só é preocupação de quem não está nos parlamentos. Nós.
O aparelhamento estatal só é uma vergonha para alguns. Nós.
A corrupção só é ofensiva para nós. Eles fazem acordos para que CPI´s poupem os seus (deles).
Os senadores deveriam ter um ombudsman. Ao menos um poderia fazer a experiência! Algum teria coragem?
Um assessor em linha direta com os eleitores. Que pudesse aferir como o trabalho de cada um é visto e avaliado.
Foi uma experiência assustadora. E deprimente, em que pese a atenção (ou mesmo revolta) demonstrada por alguns assessores.
Dias antes do Carnaval, nenhum dos senadores estava em Brasília. Com um PIB em queda, uma inflação disparada, Renan em um Spa, co-presidentes em articulações para a continuidade do pesadelo e um Brasil sem esperanças.
Uma oposição inerte, domesticada, que dá a impressão de concordar com os ladrões e usurpadores do poder, que dominaram o Executivo, tentaram intimidar o Judiciário e compraram o Legislativo.
O distanciamento destes senadores da WEB (blogs, opiniões de comentaristas-eleitores que se expõem diariamente em espaços como este aqui, redes sociais e comunicação intergrupos) é quase didático.
Demonstram não terem consciência da Primavera Árabe, da primeira eleição de Obama, dos indignados da Espanha, da geração à rasca de Portugal, da indignação com os estupros consentidos na Índia entre tantos exemplos.
Parecem ser os senhores do castelo dos horrores. Na Casa do Espanto, já não se espantam com nada. De costas para o país, continuam no dialeto estéril e bolorento: eles entendem tudo. Mas só eles entendem.
Não se trata de ameaça, mas constatação. Quem sequer ouve 1.500.000 brasileiros exigindo que se reveja o tapa que nos foi dado na cara certamente é surdo para qualquer alerta do que acontecerá a cada ano.
Algum dia, um enlouquecido e desequilibrado desconhecido – do qual Renan era assecla! – conseguiu ser presidente do Brasil com um discurso da “não-política” e do desprezo ao Legislativo. Suplantou Ulisses, Brizola e até o Imperador de Garanhuns. E ninguém parece ter aprendido nada.
Não existe vácuo. Muito menos em política.
Temo pelo ovo de serpente que possa estar sendo gestado em algum canto deste país. Que não se culpe os eleitores por outra escolha equivocada.
A culpa será exclusiva de quem, devendo ser oposição, se contenta em ser cronista de vulgaridades falando para um plenário vazio.
A oposição somos nós. Que não queremos mandatos nem cargos públicos.
Exigimos somente um pouco de vergonha na cara!