Paulo Guedes, O Globo
A progressiva
desindustrialização da economia brasileira resulta de um acúmulo de
erros de natureza macroeconômica. O protecionismo do regime militar, no
exato momento em que se iniciava uma revolução tecnológica nas áreas de
computação, informática e comunicações, foi um desastre histórico.
O
subsequente mergulho no caos da hiperinflação, aumentando a incerteza e
encurtando os horizontes de investimento, aprofundou o fenômeno de
nossa desindustrialização.
E finalmente o erro clássico de
expandir os gastos públicos ao longo de décadas de combate à inflação,
administrando-se doses equivocadas de políticas fiscal e monetária,
condenou ao declínio uma indústria brasileira já diversificada, mas
ainda emergente.
O excesso de impostos, os juros estratosféricos e
o câmbio sobrevalorizado derrubaram nossa competitividade nos mercados
globais.
São bilhões de trabalhadores asiáticos sem encargos
sociais e trabalhistas. Os juros estão baixíssimos em todo o mundo,
enquanto no Brasil estamos voltando aos dois dígitos. E os impostos
excessivos que incidem sobre as empresas reduzem sua lucratividade e a
geração de recursos próprios para financiar seus investimentos. Tudo
isso retarda dramaticamente o ritmo de acumulação de capital na
indústria.
O ex-presidente Juscelino Kubitschek tinha como
proposta de governo fazer 50 anos em 5. Pois bem, neste ambiente hostil,
nossa indústria precisa de 50 anos para financiar o que deveria
investir em 5.
Enquanto isso, com os juros de volta a 10% ao ano
comparados com 0,25% anual nos EUA, rentistas fariam 40 anos em apenas
1, se o governo tivesse sucesso em estabilizar o câmbio com vendas
maciças de reservas pelo Banco Central.
Mas há também neste início
de século uma nova dimensão que induz a desindustrialização progressiva
como fenômeno global. As novas tecnologias não apenas tornaram mais
eficientes, mas estão reinventando os processos produtivos.
Desde a
especificação do produto até sua fabricação com ferramentas digitais de
impressão tridimensional e corte a laser, há uma nova revolução
tecnológica desindustrializando a economia mundial.
O preocupante é
que, diferentemente do Brasil, nos países avançados as velhas
indústrias passaram de um terço da economia antes de iniciarem seu
recuo.
Mesmo nos Estados Unidos - onde houve enorme transferência
de fábricas em busca dos baixos custos asiáticos, e os empregos nas
indústrias de manufatura estão no ponto mais baixo dos últimos 100 anos,
tanto em termos absolutos quanto em percentagem da população
economicamente ativa -, um quarto da economia ainda consiste em produção
industrial.
Se por um lado a reinvenção da indústria com as novas
tecnologias digitais nos oferece uma extraordinária oportunidade de
renovação por meio de um mergulho digital, por outro lado estamos sob a
estranha ameaça de sermos desindustrializados antes mesmo de
completarmos nosso processo de industrialização.
A formação da
classe média ocidental está associada a esse histórico processo de
industrialização. A transferência acelerada da população rural para
grandes centros urbanos em uma janela comprimida de tempo reedita-se
agora na China.
O Brasil já é urbano e industrializado. Mas tem
ainda uma classe média emergente. Teremos de reformar o macroambiente e
reinventar nossa indústria para criar uma dinâmica de crescimento
sustentável.
Um comentário:
Caro Laguardia,
Sabemos que o sistema tributário do brasil isenta a indústria, o comércio e toda pessoa jurídica de imposto, pois todo imposto vai indeferivelmente para o bolso do consumidor final.
Sabemos que o INPI, uma autarquia de proteção industrial é quem surrupia os inventos, que são produtos de pessoas físicas e não jurídicas, é esse antro que controla a propriedade intelectual, inerentemente pessoal e não industrial. A indústria pode até desenvolver produtos, mas inventos são obra de INVENTORES, pessoas físicas.
Sabemos que todo o "parque industrial" tem poder para "fazer" um político, tem dinheiro e banca a mídia para a formação da opinião popular.
Sabemos também que o produto brasileiro é o mais lixo que pode ter e o mais caro, apesar de empresários não pagarem imposto. E sabemos que a maior margem de lucro de empresários no mundo é na fossa brasilis.
E sabemos também que empresário é o primeiro a chorar os custos brasil, apesar de não pagarem imposto, o tal imposto que é sempre embutido no preço final do produto/serviço.
Não seria mais coerente o estado via bndes e outras "fomentalidades" em vez de bancar empresários salafros, bancarem os inventores, os verdadeiros criadores de produtos e maquinários?
Entendido que o inventor é roubado em sua idéia e sua idéia é mal produzida por parasitas empresariais?
Um inventor de verdade não precisa de empresário, precisa de dinheiro e período de carência para impor sua criatividade industrial!!!
Não seria mais interessante o que aqui afirmo?
Grato.
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