segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Indústria sitiada, por Paulo Guedes

Paulo Guedes, O Globo
A progressiva desindustrialização da economia brasileira resulta de um acúmulo de erros de natureza macroeconômica. O protecionismo do regime militar, no exato momento em que se iniciava uma revolução tecnológica nas áreas de computação, informática e comunicações, foi um desastre histórico.

O subsequente mergulho no caos da hiperinflação, aumentando a incerteza e encurtando os horizontes de investimento, aprofundou o fenômeno de nossa desindustrialização.

E finalmente o erro clássico de expandir os gastos públicos ao longo de décadas de combate à inflação, administrando-se doses equivocadas de políticas fiscal e monetária, condenou ao declínio uma indústria brasileira já diversificada, mas ainda emergente.

O excesso de impostos, os juros estratosféricos e o câmbio sobrevalorizado derrubaram nossa competitividade nos mercados globais.

São bilhões de trabalhadores asiáticos sem encargos sociais e trabalhistas. Os juros estão baixíssimos em todo o mundo, enquanto no Brasil estamos voltando aos dois dígitos. E os impostos excessivos que incidem sobre as empresas reduzem sua lucratividade e a geração de recursos próprios para financiar seus investimentos. Tudo isso retarda dramaticamente o ritmo de acumulação de capital na indústria.

O ex-presidente Juscelino Kubitschek tinha como proposta de governo fazer 50 anos em 5. Pois bem, neste ambiente hostil, nossa indústria precisa de 50 anos para financiar o que deveria investir em 5.

Enquanto isso, com os juros de volta a 10% ao ano comparados com 0,25% anual nos EUA, rentistas fariam 40 anos em apenas 1, se o governo tivesse sucesso em estabilizar o câmbio com vendas maciças de reservas pelo Banco Central.

Mas há também neste início de século uma nova dimensão que induz a desindustrialização progressiva como fenômeno global. As novas tecnologias não apenas tornaram mais eficientes, mas estão reinventando os processos produtivos.
Desde a especificação do produto até sua fabricação com ferramentas digitais de impressão tridimensional e corte a laser, há uma nova revolução tecnológica desindustrializando a economia mundial.

O preocupante é que, diferentemente do Brasil, nos países avançados as velhas indústrias passaram de um terço da economia antes de iniciarem seu recuo.

Mesmo nos Estados Unidos - onde houve enorme transferência de fábricas em busca dos baixos custos asiáticos, e os empregos nas indústrias de manufatura estão no ponto mais baixo dos últimos 100 anos, tanto em termos absolutos quanto em percentagem da população economicamente ativa -, um quarto da economia ainda consiste em produção industrial.

Se por um lado a reinvenção da indústria com as novas tecnologias digitais nos oferece uma extraordinária oportunidade de renovação por meio de um mergulho digital, por outro lado estamos sob a estranha ameaça de sermos desindustrializados antes mesmo de completarmos nosso processo de industrialização.

A formação da classe média ocidental está associada a esse histórico processo de industrialização. A transferência acelerada da população rural para grandes centros urbanos em uma janela comprimida de tempo reedita-se agora na China.

O Brasil já é urbano e industrializado. Mas tem ainda uma classe média emergente. Teremos de reformar o macroambiente e reinventar nossa indústria para criar uma dinâmica de crescimento sustentável.

Um comentário:

César disse...

Caro Laguardia,
Sabemos que o sistema tributário do brasil isenta a indústria, o comércio e toda pessoa jurídica de imposto, pois todo imposto vai indeferivelmente para o bolso do consumidor final.
Sabemos que o INPI, uma autarquia de proteção industrial é quem surrupia os inventos, que são produtos de pessoas físicas e não jurídicas, é esse antro que controla a propriedade intelectual, inerentemente pessoal e não industrial. A indústria pode até desenvolver produtos, mas inventos são obra de INVENTORES, pessoas físicas.
Sabemos que todo o "parque industrial" tem poder para "fazer" um político, tem dinheiro e banca a mídia para a formação da opinião popular.
Sabemos também que o produto brasileiro é o mais lixo que pode ter e o mais caro, apesar de empresários não pagarem imposto. E sabemos que a maior margem de lucro de empresários no mundo é na fossa brasilis.

E sabemos também que empresário é o primeiro a chorar os custos brasil, apesar de não pagarem imposto, o tal imposto que é sempre embutido no preço final do produto/serviço.

Não seria mais coerente o estado via bndes e outras "fomentalidades" em vez de bancar empresários salafros, bancarem os inventores, os verdadeiros criadores de produtos e maquinários?
Entendido que o inventor é roubado em sua idéia e sua idéia é mal produzida por parasitas empresariais?
Um inventor de verdade não precisa de empresário, precisa de dinheiro e período de carência para impor sua criatividade industrial!!!

Não seria mais interessante o que aqui afirmo?

Grato.