Recentemente, ao tentar enviar uma mensagem aos nossos deputados em Brasília, notei que havia desaparecido do site da Câmara a opção de enviar um email a todos os deputados.
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Enviei então um email a Ouvidoria da Câmara dos Deputados indagando o que havia ocorrido com esta opção.
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Recebi a seguinte resposta a qual transcrevo na íntegra (comentários meus em verde):
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Ouvidoria da Câmara dos Deputados Sr.LUIZ FELIPE
Nota de Esclarecimento sobre a retirada do item
"FALE COM TODOS OS DEPUTADOS"
A Ouvidoria Parlamentar da Câmara dos Deputados, por orientação política e pedagógica do Ouvidor, Deputado Mário Heringer, esclarece que a iniciativa de retirar o item "Fale com todos Deputados" no site da Câmara dos Deputados, foi um medida consciente e estudada a partir da própria importância do significado da intervenção popular.
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O significado da intervenção popular deve ser: "Vamos parar de incomodar os senhores deputados com reclamações e sugestões, afinal de contas estamos nos lixando para a opinião pública".
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Ao tomarmos esta atitude, fizemos clara demonstração de estarmos em sintonia com uma sociedade que se organiza em diversas matizes sociais, visando cobrar, intervir no processo legislativo e no mandato parlamentar.
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É cediço que a Câmara dos Deputados é o Poder mais próximo do povo brasileiro que prima pela plena liberdade do exercício da cidadania. Contudo, a Ouvidoria Parlamentar trabalha movida pela experiências de entidades civis e movimentos organizados que acreditam que o melhor caminho para qualificar o Parlamento brasileiro é o de acompanhar paripassu o mandato, a partir da própria escolha do eleitor em eleger o seu candidato.
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Entenderam? A Câmara está em sintonia, não com o eleitor, para quem está se lixando, mas sim com entidades civis e movimentos organizados. O senhor ouvidor se esquece de que quem o elegeu foi o povo com seu voto individual e não as entidades civis e movimentos organizados. Quer dizer que a opinião dos dirigentes do MST, da OAB, etc. é mais importante que a opinião do eleitor, portanto vamos ouvir o MST e não o eleitor.
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Diversas pesquisas comprovam que a população brasileira participa da eleição e vota; muitas vezes esquece em quem votou, pouco se importando em acompanhar o mandato parlamentar seja no Congresso Nacional, no Estado e ou no próprio município.
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Por este motivo então retira-se um meio pelo qual o eleitor podia acompanhar os parlamentares como um todo. Em vez de incentivar a participação popular o Ouvidor acha por bem cercear ainda mais a liberdade do eleitor em acompanhar e opinar sobre o acompanhamento do deputado de seu estado.
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Infelizmente é um comportamento recorrente em tempos de pós-eleições que no entendimento do Ouvidor Parlamentar, urge pensar numa outra forma de participação popular, de forma mais didática e eficiente, em termos de cobrança e coerência político-partidária. A democracia se aperfeiçoa na mesma proporção em que o cidadão se organiza.
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Quer dizer que o voto individual do eleitor vale na hora do candidato pedir. Na hora de cobrança de promessas, atitudes, coerência, ética, honestidade e moral o que vale é a "organização"? Isto é o que o Ouvidor entende por democracia?
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A supressâo do "Fale com todos Deputados", foi pensando na melhor forma de qualificar o voto popular e a consciência coletivo do exercício da cidadania.
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Isto significa que a cidadania só se exerce coletivamente? Não existe o exercício individual da cidadania a não ser no dia da eleição?
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O lançamento de mensagens virtuais, de forma indiscriminada, para todos os deputados, independentemente do Estado donde o cidadão ou a cidadã esteja enviando mensagem, funciona mais como instante emocional e psicológico a que como instrumento de pressão popular. Na compreensão do papel da Ouvidoria, seria mais plausível o cidadão ou a cidadã cobrar de imediato do parlamentar no próprio Estado que o representa.
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Em outras palavras, não venha pressionar o deputado aqui em Brasília. Vá precioná-lo em seu estado. Se vire para encontrar onde é que ele tem um escritório, se é que tem, e se seu candidato perdeu a eleição então você não tem direito de reclamar. Para mim a Ouvidoria pouco entende do que é democracia e liberdade de expressão.
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Esta experiência é sobejamente exercitada pelas entidades civis e movimentos sociais. Esta prática de endereçar, cobrar ou pressionar o parlamentar na base, no município ou no Estado é uma exercício habitual dos segmentos organizados, que compreendem que a melhor forma de manifestar as suas opiniões ou cobrar posturas políticas é individualizar a cobrança comportamental, política e ideológica dos nossos representantes.
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Eleitor, se você não é membro de uma entidade civil ou movimento social, por favor não expresse a sua opinião. É esta mensagem que o Ouvidor manda aos eleitores.
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A Ouvidoria Parlamentar, como interlocutura das manifestações populares, tem a clareza de que tal endereçamento "Fale com todos os Deputados", acaba atingindo a todos de forma aleatória, sem levar em conta a conduta individual. Por vezes, de forma equivocada, a opinião pública julga a todos em razão de comportamento desviante de um ou outro parlamentar.
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Aqui está a chave da questão. O Ouvidor só está preocupado com reclamações sobre o comportamento anti-ético, desonesto e imoral de seus pares. Pare ele o eleitor não pode nem deve cobrar aprovação de projetos ou de leis. O projeto popular da Ficha Limpa com um milhão e trezentas mil assinaturas não pode ser cobrado de todos os deputados.
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Longe de cercear a liberdade de expressão, a Ouvidoria Parlamentar, ao tomar esta medida, não titubiou diante de eventuais reações contrárias. Já antevia tais contrariedades e de forma serena acata todas as manifestações e as respeita, sem abrir mão da própria convicção didática de que a melhor forma do cidadão se expressar ou indignar-se é cobrar daqueles que escolhemos nas urnas.
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De novo a Ouvidoria reafirma que está se lixando para a opinião pública "não titubiou diante eventuais reações contrárias. Já antevia tais contrariedades". A Ouvidoria Parlamentar ao contrário do que afirma cercea sim a liberdade de expressão. Como no Brasil não existe o voto distrital, não há representação por distrito. Nem tão pouco representação por entidade civil ou movimento organizado. O Deputado é representante do povo. Mesmo aqueles que não votaram nele tem o dever cívico de cobrar atitudes, comportamentos, e exigir que votem nesta ou naquela matéria.
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A democracia representativa importa em consolidarmos a própria consciência acerca da importância do voto e da eleição. Reconhecer o significado das eleições é reconhecer que a escolha dos nosso representantes requer que sejamos mais criteriosos nas decisões, pois a escolha equivocada implica em possível prejuízos para a sociedade e para espírito ética que tanto reivindicamos na política e no seio do nosso processo civilizatório.
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Concordo com este último parágrafo. Por este motivo insisto, como fazem outros eleitores, que não devemos confiar nosso voto a nenhum destes deputados que procuram cercear nossa liberdade de expressão e não se vêem como representantes do povo.
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Deputado Mário Heringer
Ouvidor Geral
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Deputado Mário Heringer, espero que os leitores de Minas Gerais não o reconduzam de novo a Câmara de Deputados, pois o senhor não sabe o que significa respeitar a opinião pública e está se lixando para o que o eleitor pensa.
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Tentei então enviar um email a todos os deputados do estado, um por um. E o que ocorreu? Foram considerados pelo sistema da C6amara como Spam e todos foram deletados.
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Impressionante a arrogância de nossos parlamentares e principalmente do Ouvidor. "Não nos incomodem. Não cobrem nada de nós. Só precisamos de vocês na hora do voto".
Laguardia,
Leia esta matéria completa no Jornal Estado de São Paulo, de sexta-feira:
Lula e o peso do Estado
O presidente Lula voltou a defender a carga tributária imposta aos brasileiros, indispensável, segundo ele, para a manutenção de um Estado forte.
A tributação brasileira é apontada em todas as comparações internacionais como grave desvantagem para o País, porque onera a produção, esfola o consumidor, torna as empresas menos competitivas e dificulta a criação de empregos.
Mas para o presidente os impostos e contribuições pagos no Brasil são razoáveis e adequados a um Estado "capaz de fazer alguma coisa". "Vou deixar claro para vocês: não imaginem um país com carga tributária fraca", disse ele a exportadores num encontro no Rio de Janeiro, na terça-feira.
Horas depois, o Congresso aprovou uma lei orçamentária com novas bondades para o funcionalismo, novo aumento do Bolsa-Família, generosas emendas paroquiais - como sempre - e um acréscimo de R$ 7,3 bilhões à verba de R$ 22,5 bilhões prevista inicialmente para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)...
Parece que Lula não aprendeu com a crise. Ao reduzir impostos conseguiu aumentar o consumo, o que ajudou e muito ao Brasil se livrar da crise, e por incrível que pareça o Brasil arrecadou mais impostos.
Mas isto é o óbvio ululante. Com menos impostos bens e serviços se tornam acessíveis a um maior número de consumidores, portanto se consome mais, se produz mais e se gera mais impostos.
Como dizia um amigo meu. É preferível receber dois de sete do que um de dez.
Mas infelizmente a ganância arrecadadora e de corrupção do governo os torna cegos para o óbvio.