Fonte: Arte & Emoções

Um gato, de nome Faro-Fino, deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha, que os sobreviventes sem ânimo de sair das tocas, estavam a pique de morrer de fome.

Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da questão.

Aguardaram, para isso, certa noite em que Faro-Fino andava aos mios pelo telhado, fazendo sonetos à lua.

– Acho, disse um deles, que o melhor meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo no pescoço. Assim, mal se aproxime a fera, o guizo a denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo.

Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O orador foi abraçado e gabado como o maior talento da geração e, posto a votos, foi o projeto aprovado com delírio. Só votou contra um rato casmurro e muito positivo, o qual, pedindo a palavra disse:

– Está tudo muito direito. Mas quem amarra o guizo no pescoço de Faro-Fino?

Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.

Moral da história: DIZER É FÁCIL; FAZER É QUE SÃO ELAS!

Monteiro Lobato

Este conto é muito atual para os dias de hoje. No cenário político estamos vendo os gatunos tomando conta de nosso governo. A corrupção, a falta de ética e de moral estão provocando um prejuízo incalculável a nação.

As pessoas conscientes, que desejam um Brasil de que possamos nos orgulhar, com políticos mais éticos, honestos e morais, estão reclamando. Temos nossos bloques onde reclamamos e esbravejamos. Nas rodinhas sociais sempre estamos falando e reclamando.

Sempre aparece uma boa idéia. Vamos sair as ruas. Vamos protestar. Vamos nos organizar. Mas na hora H o que acontece? Vem sempre as velhas desculpas.

"Não adianta, todos os políticos são corruptos não vamos conseguir mudar nunca.

"Tenho que me preocupar com meu emprego, não posso ficar visado"

Ou organizamos um demonstração para um local mais comodo, mais perto de minha casa, mais longe das aglomerações populares, e juntamos uma meia dúzia de pessoas como se fosse uma reunião social.

Mas a pergunta continua

Quem vai amarrar o sino no pescoço do gato?

Quando é que vamos ter a coragem do povo de Honduras?